quarta-feira, 28 de maio de 2008

Toda menina precisa de Prata

Fazia tempo que eu não lia a revista Capricho, mais ou menos um ano. Pode parecer pouco, mas para quem esperava ansiosamente por cada edição quinzenal, um ano é muito tempo.
Enquanto eu, feliz, lia minha revista ia aos poucos reparando que ela já não parecia mais tão minha, muitos assuntos que para mim já estão passados, já não me interessam mais. Mas sem problemas porque o melhor da revista está no final, a coluna Estive Pensando, do Antônio Prata. Chego ao fim da revista, pego delicadamente a ponta da penúltima página com a mão direita e viro bem devagar, a cena chega a ficar em slow motion. Vou logo ler o título, porque ele sempre tem algo a me dizer e antes que meus olhos possam contemplar mais uma brilhante crônica do cara que me entende, me deparo com a palavra “Desneurando”. Cadê?? Cadê?? Onde está o Antônio?? Onde está a minha crônicaaa??? Nãããooooooooooo!!!!!!!!
Um sentimento de tristeza bate em mim. Meu Deus! E agora? Estou triste. Não por mim, há tempos que eu não lia suas crônicas da Capricho, estou triste por todas as meninas que vão começar a ler a Capricho depois de agora e que simplesmente nunca conhecerão a genialidade de um certo escritor chamado Antônio Prata. Para elas, ele será apenas “mais um colunista de um jornal chato”.
Quem tem 15 anos não lê O Estado de S.Paulo, e jamais irá imaginar que um colunista de lá possa saber tão bem dos problemas da vida que ela tem. Dos 14 aos 19 anos eu li o Antônio, lia a revista inteira e deixava sempre a parte dele pro final, ansiosa por ler logo sua magnífica crônica do mês. Adorava aquele sentimento de “eu quero ler, to doida para ler, mas se eu ler logo, acaba” Então eu lia o título, ficava uns três dias com idéias sobre o que ele poderia ter escrito e lá para o quarto dia eu finalmente sentava e lia o Estive Pensando, sempre suas idéias eram bem mais geniais que as minhas, eu era tomada por aquelas palavras e me sentia feliz, me sentia completa.
Quando acabava me dava uma tristeza, “agora só daqui a quinze dias”, me contentava em ficar o restante da semana pensando no que eu tinha lido. Podia ser sobre como é possível alguém não gostar de feijoada e comer alpiste (a primeira que eu li) ou sobre como é difícil ser feliz para sempre, mas não sempre que possível (a última que meus olhos tiveram o prazer de apreciar).
Confesso que me senti velha, um marco da minha adolescência e que agora só as meninas da minha geração vão saber como era ter a companhia de Antônio. Pobres das meninas que virão. Sinto um pontinho de felicidade quando penso que daqui uns (muitos) anos vou ter uma filha que vai folhear a Capricho enquanto eu digo “bom era no tempo que a Capricho tinha Antônio Prata” com certeza ela rirá da minha cara e me chamará de velha. Enquanto eu, com um sorriso no rosto, lembrarei da doce sensação de ler o título e passar três dias aguçada para ler, não apenas mais um texto e sim o meu amigo, aquele cara lá que me entende e que eu nem preciso citar o nome.